Há quase 4 anos fui fazer para o BOM DIA a “cobertura” do Luxembourg Film Festival. O desafio era produzir alguns textos sobre os filmes que fosse ver e, antes de mais, permitir-me exercitar o meu enferrujado português.O resultado foram 5 textos. Em escrita livre. Falando do filme que vi, ou não…
Ficam aqui, agrupados, por pura vaidade.

Estamos num tempo em que nos sentamos, como eu agora, em frente a um teclado e a um ecrã que nos filtra o mundo numa doce sucessão de imagens. A realidade chega-nos intermitente e com um fim sempre ao alcance do botão desligar. Sonita tomou em suas mãos escrever sobre os problemas que viveu por dentro, sem o filtro de um ecrã. Conta a realidade de milhares de raparigas que todos os anos são vendidas, por tradição, para casar com homens por vezes muito mais velhos. A dada altura conta que a sua mãe, quando obrigada a casar, tratava o seu marido por tio, tal era a diferença de idade.

A voracidade com que nos tornamos carrascos é visível, por exemplo, nos comentários que no dia-a-dia podemos ver nas redes sociais: perfeitos alambiques de ódio. Dentro da Arca estão as tábuas das leis pelas quais se devem reger os homens. O peso da Arca, junto com as leis que encerra, só pode ser suplantado pelo peso da própria tampa. Nessa tampa, o Assento da Misericórdia, seriam oferecidos os sacrifícios que dariam lugar à redenção dos pecados cometidos.

«E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo: – Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.»
«E o operário disse: Não! – Loucura! – gritou o patrão Não vês o que te dou eu? – Mentira! – disse o operário Não podes dar-me o que é meu.»

O desejo de acabar com todas as guerras, subjacente ao sonho europeu, é um mero castelo de areia. Será preciso bem menos que as minas alemãs na costa oeste da Dinamarca para o derrubar.
E, no entanto, continuamos a colocar, todos os dias, minas nesta praia de areias finas que, juntos, escolhemos percorrer.

Talvez esse seja uma característica dos prémios Nobel, especialmente os da Literatura: falar-nos com uma simplicidade de palavra, como se dela fossem donos absolutos, e no entanto ter o poder de provocar explosões dentro das nossas ideias.
Talvez seja mesmo condição sine qua non para a atribuição de tão alta distinção, não fosse Alfred Nobel o inventor da dinamite, essa cuja eloquência Jeremias tanto admirava.