Mas mesmo que o secretismo seja quebrado, voltemos ao contexto político-social da Constituição da República Portuguesa e à necessidade de garantir que o direito de voto não possa ter repercussão directa sobre um votante específico. A preocupação com o secretismo é utilitária, serve um outro fim e não é um fim em si mesmo. Não se trata de proteger a eleição, mas sim o eleitor. Tendo colocado o boletim de voto junto com a cópia do documento de identificação o que se verifica não é uma violação dum qualquer princípio eleitoral, mas a renúncia, ainda que inconsciente, duma garantia individual. Não lesa a eleição. O estado cumpriu com a sua função, ao fornecer o envelope “de cor verde” e o “envelope branco”, de proteger a garantia – o eleitor não precisa de ser protegido dele mesmo.

O meu voto nunca será útil. Será sempre político e representativo daquilo em que eu acredito. Hoje, o meu voto vai para aquele, talvez o único, que mostrou estar empenhado no respeito da constituição e que alinha com os que nunca se encolheram perante a ameaça do fascismo. Aqueles que, como os abetos, de pé fazem face à ameaça subterrânea e subcutânea que nos ameaça o ecossistema social.

Ano e meio volvido temos Trump nos Estados Unidos, temos o Brexit, temos uma vitória à rasca do candidato ecológico na Áustria e temos a não-vitória do partido de Wilders na Holanda. Das duas eleições europeias referidas (Áustria e Holanda) cantámos vitória a quem quisesse ouvir ignorando que nos dois casos a extrema direita teve mais votos do que nos actos eleitorais anteriores.

Perante este avanço na direcção neoliberal outra solução não restou aos partidos Socialistas europeus, vazios de outro sentido fundamental que não o combate à esquerda de massas (nota: ler a esse sujeito sobre a origem dos termos bolchevique e menchevique), outra solução que não a de “apanhar o comboio” para não se verem deixados para trás. Esta deserção da esquerda moderada face aos valores de esquerda não foi sem consequências, como pudemos atestar aqui há uns anos na cisão do PS francês.

Peço ainda aos que ganharam os diversos órgãos que se preocupem em cumprir com as promessas que fizeram durante estes 15 dias, e aos outros, que não ganhando foram também eleitos, que não dêem por derrotados os seus projectos, pois se foram eleitos é porque uma parte considerável da população acreditou nos seus projectos e ideias