Este texto foi originalmente publicado no Jornal Público de 6 de Março de 2021
A primeira coisa a dizer ao Partido Comunista Português não é parabéns: é obrigado.
O ser humano é ingrato e a variante portuguesa é conhecida por ter horror à gratidão (e ao elogio) em todas as formas, mas gostava que os mais ingratos dessem uma vista de olhos pelas coisas que o PCP defende e fizesse uma lista daquelas com as quais não concorda.
Note-se que muitas das coisas valiosas pelas quais se bate o PCP nós já temos (o SNS, a Constituição, a escola pública). Note-se também que o PCP contribuiu muito para que as tivéssemos — algumas delas, importantíssimas, por ter sido o
primeiro a defendê-las.
Quando penso nos comunistas portugueses, penso em seriedade e honestidade, penso em patriotismo e, sobretudo, penso na defesa dos portugueses mais indefesos: os mais pobres, os mais fracos, os mais injustiçados, os que mais precisam de quem lute e fale por eles.
Penso também em coragem e teimosia: a coragem de ir contra o que cai bem, de ir contra as modas, de ir contra o conforto da elite política, de ir contra o que aconselham as sondagens de opinião.
Acho espantoso que se elogie o trabalho do PCP onde quer que o tenham deixado trabalhar — elegendo-o para as autarquias, por exemplo —, mas que se queira atenuar esse elogio com um mero reconhecimento da sua “capacidade organizativa” ou mobilizadora ou sabe-se lá o quê. E depois há a versão ainda mais depreciativa de lhes dar os parabéns só por ter durado cem anos.
O PCP conseguiu o que fez — o que já fez e está agora a fazer, repito — porque trabalhou, com afinco, lealdade, sacrifício e sentido de missão, para ajudar quem precisava — e continua a precisar — de ajuda.
De nenhum outro partido português se pode dizer isto.
Que dure mais cem anos, para bem de todos nós.