O Cavaquistão, também conhecido por distrito de Viseu, é uma terra profícua em caciques e tiranetes. Não tivesse sido daí que saio o Sr. António, que tanto fez “a bem da Nação”. Esses trejeitos absolutistas e de atropelo dos mais básicos direitos dos demais é feudo que ainda dá frutos, muitos deles, infelizmente, no sei das próprias organizações que se dizem essa gente combater.
Não me lembro já de quando conheci a Clara, mas foi, por certo, há perto de uma vintena de anos. Desde logo soubemos que lutávamos no mesmo lado da barricada. Do lado de cá, dos que “mais riqueza não têm que o suor da sua fronte”. Debatemos, planeámos, conspirámos. Arregaçámos as mangas e sujámos as mãos para tentar que O Amanhã fosse melhor.
Ainda que militando em organizações diferentes nunca esquecemos que é do lado de lá dessa barricada, que cedo identificámos, que está o inimigo. Não gastámos um segundo que fosse a combatermo-nos um ao outro. Soubemos sempre que, chegado o dia em que o inimigo seja batido, teríamos que nos digladiar entre nós sobre o que fazer então. Mas até lá o objectivo é uno e claro.
O distrito de Viseu ficou mais pobre. O Povo perdeu um membro importante da sua Vanguarda.
Mas ninguém é insubstituível. Todos sabemos que poderá não ser no nosso tempo que se chega à vitória. Mas como alguém disse: Resistir já é Vencer. Que sirvas de exemplo aos que ficam, Clara. Que tenham aprendido que por entre os cinzentos que vão entre o preto e o branco desta sociedade há ainda uma infindável escala de cinzentos. Que tenham aprendido que só uma visão global, articulada e inclusiva da sociedade nos poderá levar a algum lado. Que tenham aprendido que não há messias nem ideias únicas que nos levem à salvação. Os dogmas são para os outros, para os que preferem o silêncio á discussão, a submissão à igualdade, a servitude à participação. E há tantos Clara. Tantos. Incluindo no meu “clube” e no teu.
Ninguém é insubstituível, e discutimos bem eu e tu o valor de se perceber isso. Que a tua partida não seja justificação para aquilo que agora, sem ti, não se for capaz de fazer. É arregaçar a manga, é sujar as mãos, é não olhar para trás. O caminho faz-se caminhando. Fizeste um grande bocado só à tua conta.
Perdi uma das mulheres da minha vida.
Até Amanhã Camarada!